Aquando da toma da sua medicação podem surgir-lhe várias questões, sendo esta muito comum: “Posso ingerir bebidas alcoólicas com esta medicação?”, ainda para mais nas épocas festivas!
Conte com as dicas da sua Farmácia Grave para desmistificar alguns mitos e elucidá-lo sobre possíveis riscos de beber álcool enquanto toma medicação.
1. Como atuam o álcool e os medicamentos no organismo?
O álcool e os medicamentos são substâncias químicas e, como tal, passam por processos semelhantes no nosso organismo. Assim, a ingestão conjunta de álcool e medicamentos faz com que, quando estas substâncias se cruzam, interajam entre si e originem riscos para a sua saúde.
Na ingestão de bebidas alcoólicas, o álcool é absorvido pela corrente sanguínea e distribuído rapidamente por todo o corpo. No cérebro, exerce um efeito depressor no Sistema Nervoso Central (SNC), afetando a função emocional e sensorial, a capacidade de julgamento, de memória e de aprendizagem. Como o corpo não consegue armazenar álcool, cabe ao fígado decompô-lo e metabolizá-lo, para que seja facilmente eliminado pelos rins ou pelo ar expirado.
De igual forma, os medicamentos são absorvidos para o sangue, onde viajam até ao local onde vão atuar, produzindo o efeito terapêutico desejado, até serem eliminados do organismo (através dos rins). À semelhança do álcool, o fígado também é responsável pela sua metabolização.
2. O que pode acontecer?
Existem várias interações medicamento-álcool que podem ocorrer, tais como:
- diminuição da eficácia do medicamento - o álcool pode estimular o metabolismo de alguns fármacos e, assim, a sua eliminação ocorre de forma mais rápida, diminuindo o efeito terapêutico do medicamento.
- aumento da duração e da intensidade dos efeitos de alguns medicamentos - como o álcool disputa as mesmas enzimas que o medicamento, pode fazer com que o metabolismo de alguns fármacos seja inibido. Com isso, o fármaco permanece mais tempo no organismo, aumentando a ocorrência de efeitos secundários (ex.: dores de cabeça, vómitos, sonolência).
- a ingestão crónica de álcool pode alterar a biotransformação dos medicamentos. Neste caso, as enzimas mantêm-se ativas mesmo quando não há consumo, o que resulta em produtos tóxicos que podem danificar o fígado e outros órgãos.
- o álcool pode ampliar ou contrariar a ação de alguns medicamentos que atuam no SNC.
3. Quais os medicamentos que interagem com o álcool?
O risco e gravidade da interação com a medicação e consequentes efeitos varia, dependendo do medicamento, da quantidade e da frequência de ingestão de álcool.
São inúmeros os medicamentos que interagem com o álcool, sendo que em alguns casos os riscos para a saúde são mais pronunciados:
- relaxantes musculares (ex.: tizanidina): o álcool potencia os efeitos secundários desta medicação (ex.: sonolência, tonturas, cansaço, boca seca, náuseas, perturbações gastrointestinais, hipotensão).
- antiepiléticos (ex.: clonazepam): o álcool reduz a eficácia destes medicamentos, aumentando a suscetibilidade ao surgimento de crises epiléticas;
- ansiolíticos (ex.: alprazolam, diazepam, lorazepam): o álcool é um depressor do SNC e, como tal, agrava os efeitos destes medicamentos (ex.: sonolência, sedação, distúrbios de memória);
- antidepressivos: o álcool aumenta os efeitos secundários e potencia o efeito sedativo. Além disso, diminui a eficácia destes medicamentos
- antipsicóticos (ex.: quetiapina, olanzapina): o álcool agrava os efeitos adversos destes medicamentos (ex.: sonolência, tonturas, hipotensão ortostática).
- anticoagulantes (ex.: varfarina) e anti-agregantes (ex.: ácido acetilsalicílico): o álcool aumenta o risco de hemorragias;
- anti-histamínicos/antialérgicos: alguns anti-histamínicos têm efeito sedativo, que pode ser potenciado pelo álcool, causando sedação excessiva e tonturas;
- antidiabéticos: o álcool aumenta o risco de hipoglicemia;
- paracetamol: o álcool aumenta a toxicidade do paracetamol no fígado (hepatotoxicidade) e, consequentemente, o risco de hepatite medicamentosa.
- anti-inflamatórios: o álcool não afeta o efeito destes medicamentos, embora possa aumentar a incidência de efeitos secundários, como o risco de úlceras gástricas;
- antiparasitários (ex.: metronidazol): o álcool aumenta os efeitos secundários desta medicação (ex.: dores de cabeça e estômago, náuseas, vómitos, palpitações);
- antibióticos: na maioria das classes de antibióticos não existe problema em ingerir bebidas alcoólicas de forma moderada, contudo, o consumo excessivo/crónico de álcool pode alterar a eficácia dos antibióticos. Alguns antibióticos não podem, de forma alguma, ser tomados com álcool devido ao risco de reações adversas (ex.: náuseas, vómitos, cefaleias e palpitações). São eles o metronidazol, o tinidazol, a cefoxitina e o sulfametoxazol+trimetroprim.
Se surgir alguma dúvida sobre se pode ou não, beber álcool durante a toma de determinado medicamento, leia atentamente o folheto informativo do medicamento ou consulte o seu médico ou farmacêutico. Na Farmácia Grave encontra profissionais habilitados para o ajudar!
Conte com a sua Farmácia Grave!
Dra. Rita Pereira
Farmacêutica