1. O que é a Diabetes Mellitus?
É uma doença crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue (glicose), devido ao organismo não ser capaz de a transformar (isto é, metabolizar) adequadamente. Existem vários tipos de diabetes: tipo 1 e 2.
Portugal apresenta mais de 1 milhão de diabéticos e o número mais elevado da Europa de casos de pé diabético e de amputações! Em 2020, menos de 118 mil diabéticos, inscritos no Sistema Nacional de Saúde (SNS), tiveram acesso a exame aos pés.
2. O que é o Pé Diabético? Quais as suas complicações?
O Pé Diabético é uma das complicações mais graves da diabetes mellitus, ao qual se associam várias complicações crónicas, tanto micro como macro vasculares. Estas complicações incluem a seguinte tríade:
- Neuropatia
Afeta os nervos dos membros inferiores, diminuído a sensibilidade aos traumatismos vulgares do dia-a-dia. - Doença Arterial Periférica
Afeta as artérias dos membros inferiores. Provoca isquemia periférica (ou seja, diminuição de oxigénio), fragilizando assim os tecidos. Pode evoluir para uma úlcera crónica do pé. - Infeção no contexto de uma neuropatia e isquemia
Propagação e destruição extensa dos tecidos profundos do pé com eventual necessidade de realizar amputações menores/maiores do membro inferior.
O pé diabético, além da limitação do próprio membro, também afeta negativamente a qualidade de vida do indivíduo, exigindo reabilitação por longos períodos de tempo. Além disso, representa elevados custos com hospitalizações de repetição e está associado a um elevado índice de mortalidade.
3. Quais os fatores de risco do Pé Diabético?
- Hábitos (ex.: corte inadequado das unhas);
- Cuidados de higiene precários;
- Não secar bem os pés após o banho, principalmente entre os dedos (o que mantém a humidade nessa zona);
- Andar descalço;
- Pele dos pés seca e descamativa;
- Presença de deformidades, rigidez articular, gretas e fungos;
- Antecedentes de amputação e úlceras prévias;
- Uso de sapatos e meias inadequados;
- Obesidade;
- Diminuição da acuidade visual;
- Hábitos alimentares inadequados;
- Sedentarismo;
- Hipertensão arterial;
- Doença arterial periférica e neuropatia;
- Idade superior a 60 anos;
- Baixa literacia (pelo que, é necessário, a formação do utente pela equipa de saúde);
- Condição socioeconómica precária.
4. Como prevenir? Que cuidados adotar?
Prevenir é a palavra de ordem! Para tal, devem ser identificados os grupos de risco, isto é, os que apresentam:
- insensibilidade ao monofilamento (exame realizado na consulta de Diabetes/Pé Diabético);
- ausência de pulsos periféricos (também realizado na consulta do Pé Diabético);
- deformidades dos pés.
No dia-a-dia, é fundamental que ponha em prática alguns dos seguintes cuidados específicos:
- Observe diariamente os pés (detete zonas de pressão, úlceras, flictenas/bolhas);
- Promova cuidados ungueais (isto é, entre os dedos dos pés);
- Escolha calçado adequado (para prevenir úlceras);
- Se tiver pés com deformidades, adapte o calçado;
- Evite utilizar objetos cortantes e pontiagudos que causem lesões nos pés (estes doentes apresentam uma diminuição de sensibilidade);
- Trate as onicomicoses (fungos nos pés) adequadamente e o mais rápido possível;
- Trate as calosidades e zonas de hiperqueratose (pois, criam zonas de pressão e cavitações profundas, que podem evoluir para úlceras, muitas vezes, não visíveis). Depois de devidamente tratadas, mantenha as medidas corretas para evitar a sua recorrência;
- Em caso de úlcera, deve ser avaliado periodicamente até à sua cicatrização (de preferência, pela mesma equipa).
- Deve ser seguido em consulta de Diabetes/Pé diabético, independentemente de ter úlceras ou outras complicações;
- Se não conseguir tratar dos seus pés diariamente, procure um profissional com formação especializada em Podologia. Deve ir, pelo menos, uma vez por mês.
A prevenção de lesões que surgem nos pés de diabéticos requer um cuidado rigoroso, bem como a sua observação criteriosa e regular. O exame do pé consiste num exame especializado e rigoroso, de modo a identificar fatores de risco para lesões e sinais de neuropatia e/ou isquemia. Também são inspecionados o calçado e as meias.
O princípio basilar para evitar complicações no doente diabético é a prevenção! Para tal, a Farmácia Grave tem ao seu dispor um profissional especializado em Podologia…
Enf.ª Filipa Romeiro
Enfermeira com formação em Podologia